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quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Loucura?..Ou simplesmente diferente?


Hoje perdi-me no pensamento e na dor daqueles que chegam até mim no desespero e na agonía de serem e de se sentirem diferentes. Não é o ser diferente que lhes dói. O que lhes dói é a sensação de não serem respeitados na sua diferença, serem olhados como diferentes, incompreendidos, sentirem que não existe espaço nesta sociedade para existirem tal como são...são os loucos! Em agonía, tristes, muitos isolam-se no seu canto...

Foi perdida neles que me lembrei deste pequeno texto de um grande escritor, e que descreve muito bem o que é isto da loucura!

Talvez vos sirva de consolo...é apena uma questão de números!


“Loucura?! Mas afinal o que vem a ser a loucura?
Um enigma…Por isso mesmo é que às pessoas enigmáticas, incompreensíveis, se dá o nome de “loucos”.
Que a loucura, no fundo, é como tantas outras, uma questão de maioria.
A vida é uma convenção: isto é vermelho, aquilo é branco, unicamente porque se determinou chamar à cor disto vermelho e à cor daquilo branco.
É a gente de juízo…
Pelo contrário, um reduzido número de indivíduos vê objectos com outros olhos, chama-lhes outros nomes, pensa de maneira diferente, encara a vida de modo diverso. Como estão em minoria…são doidos.
Se um dia porém a sorte os favorecesse os loucos, se o seu número fosse o superior e o género da sua loucura idêntico, eles é que passariam a ser ajuizados: Na terra dos cegos, quem tem um olho é rei, diz o adágio: na terra dos doidos , quem tem juízo é doido, concluo eu.
O meu amigo não pensava como toda a gente…Eu não o compreendia: chamava-lhe doido…
Eis Tudo.”

Mário de Sá Carneiro, In "Loucura"

domingo, 25 de janeiro de 2009

Do Stress Profissional ao Síndrome de Burnout


O stress é já considerado como um das epidemias do século XXI. Os seus efeitos são tão negativos para as pessoas, como para as empresas.

Quando se fala nas implicações do stress no trabalho os prejuízos são tanto para a saúde das
pessoas como para a saúde das organizações. Segundo números da União Europeia, que foram
divulgados em 1996, um em cada quatro trabalhadores europeus queixa-se do stress no
trabalho, e um em cada cinco de estado grave de fadiga física e emocional (mais conhecido
por Burnout).
Uma das consequências mais marcantes do stress profissional é o Síndrome de Burnout.
O Síndrome de Burnout pode ser definido como uma forma de resposta dos sujeitos a situações permanentes e intensas de stress laboral.
O Síndrome de Burnout caracteriza-se por uma sensação de esgotamento emocional, em que o sujeito sente uma sobrecarga e que não aguenta mais, tornando-se insensível e por vezes até desumano na relação com os outros, como se estivesse no seu limite, associado a sentimentos de desvalorização pessoal, de sentimentos de incompetência pessoal e profissional, perdendo o interesse e a motivação para o trabalho.

O Síndrome de Burnout vai-se instalando progressivamente.
Aos poucos o entusiasmo idealista, com uma entrega total ao trabalho, em que o trabalho era a forma de realização pessoal o sujeito passa a sentir que o trabalho deixa de ser tão interessante ou excitante e de ser um substituto para tudo na vida.
Posteriormente os sujeitos começam a sentir alguma frustração, começando a questionar-se sobre a sua eficiência no trabalho, a pertinência e o valor do seu trabalho. Por fim surge a Apatia, a pessoa sente-se cronicamente frustrada no plano profissional, mas precisa dele para sobreviver. Tenta trabalhar o mínimo de tempo, e evita desafios.

As Profissões que envolvem relações interpessoais são as que apresentam maior
vulnerabilidade ao Burnout.
As categorias profissionais de maior risco são : Os prestadores de cuidados: médicos, psicólogos, enfermeiros, auxiliares de prestadores de cuidados; Assistentes sociais e os funcionários de serviços sociais; Educadores e professores; Juízes e pessoal penitenciário, bem como funcionários da polícia e da manutenção da ordem pública;
Na sociedade actual são vários os factores Pessoais e Organizacionais que contribuem para que uma pessoa «entre em stress».

Dentro dos factores pessoais, a procura de êxito social exagerada, o forte sentido de
responsabilidade, o perfeccionismo, a culpabilização, o auto criticismo, o espírito de salvador,
o querer fazer tudo sozinho, a carga de trabalho, a responsabilidade familiar ou profissional, e
as dificuldades financeiras, são os exemplos mais frequentes.

Ao nível dos factores organizacionais, o ambiente laboral, o número de horas de trabalho
excessivas, o trabalho por turnos, as tarefas com tempos-limite curtos, a irracionalidade
administrativa ou organizacional, a monotonia, a sobrecarga de responsabilidade, a mudança
constante, a incerteza face ao futuro quer da empresa quer do posto de trabalho, a falta de
apoio de superiores, são os factores mais apontados.
Sintomas do Burnout
Esta patologia tem consequências Físicas
, tais como: cefaleias, dores musculares, problemas gastrointestinais, insónias, hipertensão, perda de apetite, dores nas costas, falta de energia, mas também e não menos graves,
consequências Psicológicas: culpabilidade, baixa tolerância à frustração, irritabilidade, ansiedade, degradação das relações interpessoais, desinteresse, despersonalização, perda de sentido de humor, diminuição da auto-estima, insegurança, indecisão, distorção dos valores, diminuição da atenção e concentração, hiperactividade.
Estas últimas, por sua vez, traduzem-se muitas vezes no aumento de comportamentos violentos, no abuso de consumo de substâncias tais como álcool, drogas ou produtos químicos, assim como na prática de comportamentos de alto risco.

Porém as consequências do Burnout não se ficam por aqui. Este desequilíbrio pessoal também tem consequências negativas para as empresas. Atrasos, absentismo, redução da produtividade, aumento do número de acidentes de trabalho, erros na tomada de decisão, são
alguns dos principais exemplos.
É pois, necessário e urgente, que se criem estratégias de prevenção e tratamento intervindo,
quer ao nível individual quer ao nível das organizações.
O apoio psicoterapêutico individual, por um lado, e a promoção de dinâmicas de apoio social, a promoção de trabalho em equipa e a criação de grupos de apoio dentro das organizações, por outro, são algumas das medidas que podem ser adoptadas pelos sujeitos e pelas chefias de forma a proteger a saúde física e mental dos seus colaboradores e das suas organizações.

Maria de Jesus Candeias
Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta
jesuscandeias@gmail.com

Psicoterapia com Adolescentes


A adolescência é uma fase da vida particularmente difícil.
Na fase inicial da adolescência, o jovem tem de lidar com a passagem da infância para a adolescência propriamente dita.
Na fase final da adolescência, o jovem tem de lidar com a saída da adolescência e a entrada no mundo adulto.
Na fase intermédia há inúmeras situações de grande tensão e conflito psíquico, porque o adolescente tem que aprender a lidar com um corpo e uma personalidade em permanente e rápida mudança.

Muitas vezes os adolescentes não apresentam uma verdadeira psicopatologia ou um quadro clínico bem definido.
O adolescente tem de enfrentar no seu dia-a-dia muitas exigências no que respeita à relação consigo próprio, com o corpo, com os amigos e com a sua família.
Estas exigências funcionam como pressões e fazem com que ele viva sentimentos e emoções extraordinariamente fortes e potencialmente desorganizadoras.

Algumas das dificuldades que podem ser sentidas pelos adolescentes e devem ser alvo de atenção de um psicólogo, podem ser:

 Problemas relacionados com o desempenho escolar
 Problemas relacionados com o corpo e a imagem corporal
 Problemas relacionados com a alimentação
 Problemas relacionados com a formação da identidade
 Problemas relacionados com a sexualidade
 Problemas de comportamento e agressividade
 Problemas na vida familiar
 Problemas depressivos e ansiosos
 Problemas com a integração num grupo de amigos

Se a dificuldade do adolescente foi em primeiro lugar detectada por um dos pais ou alguém da sua família, deve-se inicialmente marcar uma consulta de Aconselhamento Individual ou familiar (com a presença de mais do que um membro da família) onde poderá expor toda a situação e todas as suas dúvidas a um psicólogo clínico.
O psicólogo, com base nas informações fornecidas, irá tentar compreender a situação que lhe foi apresentada e, conjuntamente com o jovem, irá conceber uma estratégia para fazer face ao problema colocado.

Se não existirem dúvidas em relação à presença de uma dificuldade psíquica e o adolescente estiver predisposto a ir a uma consulta de psicologia para perceber o que se passa com ele, então o próprio adolescente deverá marcar uma entrevista inicial. Se o adolescente tiver menos de 16 anos é importante que vá à primeira consulta acompanhado dos pais ou de um adulto da família.

Após esta etapa o psicólogo irá definir com o adolescente e a sua família a melhor forma de o ajudar.

Nos adolescentes a psicoterapia facilita a reflexão sobre o processo de mudança físico-emocional que enfrentam. Ajuda no auto-conhecimento, na gestão dos conflitos, permitindo que tome decisões pessoais e profissionais de forma mais consciente e adulta.

As psicoterapias individuais - Psicoterapia de Apoio e Psicoterapia Psicanalítica Individual - são de grande utilidade na resolução da maioria dos problemas apresentados na adolescência.

A Rivalidade entre irmãos


( Artigo Publicado na Revista Sábado de 18/12/08).


Para se entender como é que se comportam os adolescentes, nomeadamente na sua relação com os irmãos, é necessário recuarmos um pouco e pensarmos um pouco como nos construímos enquanto pessoas.
A relação entre irmãos na adolescência, e futuramente na idade adulta, é um processo que se iniciou desde o nascimento do irmão mais novo. A forma como esta relação foi vivida e sentida, por ambos, no passado, condicionará, de certa forma, a sua relação actual.
Existem diversos factores que influenciam e determinam a relação entre irmãos, desde a mais tenra idade. Um desses factores tem a ver com as expectativas que a família tem acerca das características, competências e possibilidades de cada uma das crianças. Estas expectativas vão ser determinantes na organização da fratria, nas relações de poder entre irmãos, na função e papéis de cada um. Um outro factor, determinante na relação entre irmãos são as dinâmicas do funcionamento familiar assim como do modelo de relacionamento parental, que tende a ser reproduzido na relação entre irmãos, e aqui podemos incluir, as representações do papel do homem e da mulher em todas as suas variantes, dos valores, dos nossos padrões culturais entre outros.
A relação entre irmãos nunca é inteiramente fácil ou isenta de conflitos. É, de uma forma geral, como muitos lhe chamam, uma relação de amor-ódio, uma relação ambivalente, que, longe de ser negativa, funciona como uma mola que permite à criança crescer e “assumir-se “ de uma forma saudável dentro da fratria.
A rivalidade entre irmãos é tão velha quanto a bíblia, onde é referido o episódio em que Caim mata Abel por ciúmes.
O ciúme é um instrumento necessário para que o “primogénito” faça o luto do sentimento de “Pleno Poder”sentido graças à sua condição de “Pequeno Rei”
É através da rivalidade que a criança aprende a vida em comum, a necessidade de ter em conta o outro, de partilhar e faz a aprendizagem da competição social. É na relação com irmãos que a criança começa a aprender padrões de lealdade, prestatividade, protecção, competição, domínio, conflito, que vão ser generalizadas a todas as relações que a criança vai estabelecer ao longo de toda a sua vida.
Esta situação torna-se complicada e eventualmente patológica quando os pais não sabendo gerirem essa rivalidade (que acaba sempre por vir à tona mais cedo ou mais tarde) e tendem, não raras vezes, a proteger e favorecer um dos filhos, normalmente o mais novo, passando a exigir mais do mais velho, que muitas vezes acaba por crescer “depressa de mais”. Essa situação pode comprometer o desenvolvimento da criança e poderá levar a que a criança mais velha se sinta cada vez mais posta de lado (não quer dizer que isso seja real, mas pode ser sentido) e a sua agressividade vai sendo virada para o próprio por não lhe permitirem que a exteriorize.
Essa rivalidade recalcada, não expressa, pode assumir contornos de ódio levado ao extremo, em que irmãos mais velhos direccionam essa raiva aos mais novos, mais tarde na adolescência ou idade adulta, por não o terem manifestado mais cedo na infância, provavelmente porque os pais não lho permitiram.
Haverá outras razões, mas por detrás destas actuações está muitas vezes a repetição do modelo parental rígido e opressor, de um pai autoritário e rígido ou de um pai ausente em que o filho mais velho assume o papel de pai de família, de autoridade, e em que nesta fase de emancipação “da filha mais nova” tenta impor regras e limites, o que é muitas vezes fonte de conflito, pois a irmã, tal como é saudável e desejável, não lhe reconhece tal papel e entram em confronto, tentando autonomizar-se.

Nas famílias muito conservadoras e rígidas, com uma disciplina muito autoritária, já encontrei situações em que irmãos mais velhos, todos rapazes, com irmãs mais novas raparigas, demonstram ao fim de algumas sessões um ódio aceso pela irmã mais nova que só tiveram oportunidade de exteriorizar na adolescência aproveitando-se do estatuto de rapaz, a quem os pais dão mais liberdade. Num dos casos havia uma diferença de seis anos, e o irmão assumiu o papel paternal, decidindo onde a irmã ia e com quem, sob a égide de protecção. Na realidade o que estava presente era de facto a rivalidade e a vingança por um amor que não tinha tido. Este homem foi durante anos submetido a um autoridade paterna desmedida que o impediu de viver uma infância e adolescência normal. Quando a irmã atingiu a idade de sair apoderou-se de um papel que lhe permitiu a vingança. Muitas sessões depois foi possível exteriorizar os ciúmes que tinha da irmã, revelando que ela era uma privilegiada pois não tinha passado pelo que ele passou e que tinha muito ressentimento dela por isso.

Tentando responder à suas questões:

1. - Como costumam os irmãos mais velhos reagir a novas situações relacionadas com as irmãs mais novas como: a primeira saída à noite, o primeiro namorado, o primeiro fim-de-semana for da irmã mais nova, , ou quando tiram a carta...
Na sequência do que tenho vindo a referir, não podemos definir uma forma típica de reacção, a forma como os irmãos mais velhos reagem face a novas situações das irmãs mais novas, depende de múltiplos factores, entre os quais a personalidade, os modelos de funcionamento familiar, em que cresceu, a presença ou ausência de figura de autoridade (no caso da nossa cultura, muito associada a uma figura masculina), das representações dos papéis do homem e da mulher na família, dos valores, entre outros factores.
O que posso dizer, e que me diz a minha prática clínica é que de uma forma geral, um tipo de resposta saudável e expectável, dos irmãos mais velhos, numa primeira fase com o início de actividades de autonomia das irmãs mais novas, é revelarem alguma preocupação e até protecção, dando conselhos, evitando de alguma forma que a irmã mais nova passe por situações desagradáveis pelas quais ele próprio já passou, e aí entram muito os valores da nossa cultura, os estereótipos e preconceitos sobre a mulher, o que “fica bem” ou “fica mal” o que a irmã deve ou não fazer. Porém, numa relação saudável, esta preocupação inicial extingue-se passado pouco tempo, os irmãos seguem lado a lado, apoiam-se, tornam-se de alguma forma cúmplices, mas não se traem, nem invadem a privacidade um do outro. Existe o respeito pela individualidade de cada um.
Porém, existem outros casos, e não são assim tão raros, em que esta preocupação inicial se prolonga no tempo, de forma muito obsessiva, em que o direito à individualidade e à autonomização das irmãs mais novas são insistentemente postos em causa, com uma intrusão abusiva na vida das irmãs mais novas. E isto claramente não é uma relação desejável, nem saudável para nenhuma das partes. Os casos apresentados são disto testemunho.
Na minha prática tenho verificado que muitos dos irmãos mais velhos que cresceram em famílias muito conservadoras e rígidas, com uma disciplina muito autoritária, ou em famílias em que o pai não existe, estes jovens tendem a reagir sempre com uma “preocupação” face às primeiras manifestações de autonomia das irmãs mais novas, levando a um controle apertado dessa fase da adolescência, em que simultaneamente agem a sua raiva fraterna e assumem, no caso de pai ausente, o papel de pai de família, tentando impor regras e limites às irmãs mais novas. Nos casos do pai ausente, o papel de protector e autoridade, estende-se não raras vezes à própria mãe. Não passam de semi-adultos frustrados que precisam de exorcizar os seus fantasmas à custa de oprimirem alguém. Esta necessidade acompanhá-los-à pela vida fora, a rivalidade fraterna não fica resolvida e vão actuá-la mais tarde em colegas de trabalho (são os típicos colegas invejosos), esposas, filhos, enfim pelas diversas relações que estabelecem ao longo da vida. Também existe este tipo no feminino.

2. Como devem as raparigas reagir quando os irmãos mais velhos se tornam demasiadamente controladores?

É fundamental que estas jovens ponham um limite a esta autoridade e invasão da sua privacidade e lutem pela sua autonomia e pelo respeito da sua privacidade. Deverão fazê-lo de forma directa e assertiva. Evitar o conflito é muitas vezes uma forma de adiar a resolução do problema. O exemplo da Marta é disso testemunho.
Mas nem sempre é fácil sair deste ciclo uma vez que, muitas das vezes, tudo é feito com a conivência, e suporte, dos pais (que ficam mais descansados, por exemplo, nas saídas à noite quando o filho mais velho vai tomar conta da irmã mais nova).
Tornam-se mulheres deprimidas e passivas e pouco autónomas, aquelas que já tinham uma tendência para tal. Outras haverá que, mais resilientes, lutam e se livram da tirania fraterna, ou até paterna e conquistam a sua autonomia. A Marta é disso um bom exemplo.

Como é que uma relação entre irmãos adolescentes possessiva pode afectar a sua relação na idade adulta?

Uma relação conflituosa entre irmãos na infância e na adolescência caso não seja, desconversada, compreendida e elaborada, sê-lo-à, igualmente conflituosa na idade adulta, com a diferença de que nessa fase as rivalidades e as possessões são manifestados por mecanismos mais elaborados e requintados adequados à idade adulta.

4.3.- Como devem os pais actuar?
Em primeiro plano os pais não se deveriam nunca demitir do seu papel parental delegando funções, que são suas, nos outros filhos, geralmente no filho mais velho, porque não só estão a atribuir funções ao filho mais velho que não são suas, como estão a contribuir para a perversão dos papéis de cada um no seio da família.
È fundamental que pais e filhos, saibam e tenham bem conscientes dentro de si, os papéis e tarefas de cada um dentro da família.
Por outro lado, também é importante que os pais não interfiram muito na relação entre irmãos, porque isso implica tomar partido de um em detrimento de outro, defender um e acusar outro, o que vai em muitos casos, aumentar a rivalidade e o ciúme.
Porém, em situações extremas, como o caso de Lara, é claro que os pais devem interferir, no sentido de clarificar os papéis de cada um dentro da família, chamar a si a responsabilidade da vida de Lara, que está por hora assumida pelo seu irmão e claramente demitir o Pedro da sua função de “proteger a irmã”. Esta situação deixa transparecer alguma conivência dos pais de Lara com o seu irmão sob a égide da protecção.


4. - É importante as raparigas terem mais uma figura masculina autoritária na fase da juventude?
Não, de todo. Considero ser pernicioso para a jovem rapariga acumular modelos masculinos opressores.
Estes modelos podem, também eles, condicionar a jovem, mais tarde, na escolha de um parceiro em que muitas vezes irá optar, numa compulsão á repetição, pelo mesmo tipo de sujeitos opressores e autoritários, perpetuando um ciclo relacional doentio.

Em suma, e de encontro ao objectivo deste texto, Sim, os varões à antiga – autoritários, controladores, ciumentos, protectores, antiquados e machistas ainda existem, e na minha opinião continuarão a existir, porque a razão da sua existência está para além de questões culturais, de moda, de direitos do homem ou da mulher. São manifestações instintivas de sobrevivência face à insuficiência de modelos e vivências relacionais suficientemente satisfatórias e que estão na base da construção de personalidades imaturas que necessitam de se afirmar pela opressão e pelo poder.

Maria de Jesus Candeias

Psicóloga Clínica.
Membro da Sociedade Portuguesa de Psicoterapia Psicanalítica.
Consultório : Policlínica do Areeiro
jesuscandeias @gmail.com

Luto,porque é necessário dar um sentido à perda..


A palavra luto quer dizer “dor” causada pela morte de alguém.
“Fazer o seu luto” quer dizer literalmente “passar através da sua dor”.
“A resolução do luto” é o fenómeno que corresponde à nossa capacidade de “reparação da ferida” que a perda de alguém ou algo causa em nós…corresponde à transformação de vivências em memórias.
Porque nascemos fruto de relações, mais ou menos intensas, mais ou menos afectuosas, somos por natureza um ser de e para a relação…porque as emoções são o sustento das interacções e da relação, o homem é por consequência um ser que cria ligações/laços com as pessoas e as coisas. Sem ligações, sem afectividade, a vida não seria possível. É por isso que nós criamos com os seres queridos relações que são laços psicológicos e espirituais. Esses laços são de intensidade variável de acordo com o tipo de investimento afectivo em relação à outra pessoa.
O luto é assim um acontecimento normal e inevitável na vida de um indivíduo, e não uma doença.
Contudo, a negação do sofrimento e da morte na nossa sociedade impedem o desenrolar normal da resolução do luto. A dissimulação e o recalcamento aos quais são impelidas as pessoas em luto são factores muito importantes de “stress” e até mesmo de doença.
A vida é uma série ininterrupta de ligações e de separações, de mortes e de nascimentos. É preciso estar sempre preparado para morrer para uma situação e nascer para outra. É este o preço da vida. O luto faz, por isso, parte da vida. Poderemos mesmo dizer que é um elemento fundador da vida.
No entanto, e apesar de o luto ser um trabalho individual, toda a família e comunidade devem participar neste processo de “resolução do luto”, não omitindo o facto, nem fazendo de “conta que nada aconteceu, como sendo um tabu”, mas auxiliando as pessoas enlutadas a re(construir) um modelo de relação diferente…em que o físico se transforma em memórias! A vivência de um luto, faz-nos sempre pensar nas nossas próprias perdas e isso pode de algum modo causar-nos dor, sofrimento e consequentemente, afastar-nos de situações que o evoquem.
A negação social da morte e do sofrimento, tem repercussões imensas sobre as pessoas e comunidades em situação de perda. As maioria das pessoas desconhecem a importância de “ fazerem os seus lutos” e de consciente ou inconscientemente “percorrerem” as diferentes fases que este doloroso mas necessário percurso requer, para que se possa retomar a uma vida normal, porém transformada.
Se por qualquer razão, esta passagem pelas diferentes fases não se verificar, o individuo em luto fica “ agarrado” a uma relação que já não existe e não consegue construir uma vida verdadeira e diferente.
As causas destes insucessos são múltiplas:
falta dos rituais sociais que favorecem o decorrer do luto;
insuficiência de informações necessárias sobre a maneira da fazer o seu luto;
incapacidade de se exprimir emocionalmente, etc.
O luto é assim um tempo obrigatório entre duas fases da vida: aquela que
deixámos porque nos separámos do ente querido e aquela que virá depois
de o termos deixado partir e que será completamente diferente da precedente
Choque, corresponde ao momento imediato ao conhecimento do óbito e caracteriza-se por um entorpecimento da emotividade e das faculdades de percepção. No momento da notícia a pessoa fica anestesiada, e não é capaz de assimilar toda a reacção emocional da perda. O mundo abate-se à sua volta e a intensidade desta sensação é tanto maior quanto mais súbita e imprevisível for a morte.
Há pessoas que têm tendência a manter uma vida interior rica de ilusões em relação ao ser que partiu. Desenvolvem por vezes alucinações que se destinam a manter a sua presença.As resistências são maiores se a pessoa não o pôde ver, falar-lhe ou tocar-lhe. Alguns lutos não se conseguem fazer, simplesmente porque não se viu o corpo do defunto.
A negação tem por fim retardar a plena consciência da realidade do drama. Esta consciência, se for muito forte, pode levar a que o indivíduo perca o seu equilíbrio psíquico.A primeira forma de negação é de natureza cognitiva: nega-se a perda, a pessoa tenta esquecê-la ou não pensar nela.A segunda forma é de natureza emotiva: a expressão emotiva fica bloqueada, quer pela falta de meios para exprimir as suas emoções, quer pelo medo de se deixar afogar nelas.

A negação pode apresentar-se de várias formas: sobre actividade, substituição de quem partiu por um outro alguém, procura de um culpado, apresentação do ser perdido como sendo o melhor, recurso a drogas, perturbações psicossomáticas, etc.

Quando as defesas cedem e a realidade da perda se impõe, emerge todo um conjunto de emoções: ansiedade, impotência, tristeza, cólera, culpabilidade, um sentimento de libertação, as lamentações da plena consciência da perda.

“ Dar um sentido à perda…”

É preciso aceitá-lo, deixá-lo evoluir, vivê-lo: descobrir a chave. O período de reflexão necessário para este trabalho pede à pessoa que tenha confiança na sua sabedoria interior. O processo de luto e a sua resolução constituem um momento de crescimento e maturação pessoal e interior…em que nos deparamos com os nossos medos e angústias mais terrificas…por isso o confronto com o sofrimento dá-nos a possibilidade de elaborarmos os nossos receios e (re)avaliarmos o que queremos e fazemos com a nossa vida.
Um luto é considerado normal, quando a pessoa experiência sentimentos de tristeza, enfado, culpa, ansiedade, solidão, fadiga, impotência, choque, emancipação, alivio entre outras, durante um tempo suficiente para si, que lhe permite (r)elaborar a perda, e nesse sentido percorrer as diferentes fases do luto até conseguir finalmente atribuir um sentido à perda e assimilar as memórias sem dor nem sofrimento.
O Luto é considerado patológico ou complicado, quando existe uma relação contínua entre as reacções normais e anormais, isto é, não existe uma diferenciação e para além disso, o luto patológico varia em intensidade e duração face ao luto normal, assim como na presença ou ausência de uma conduta específica
A diversidade nos diferentes tipos de luto, remete-nos para a diversidade de reacções e de vivências do luto que cada pessoa apresenta. Nestas situações, mais do que em qualquer outra, cada pessoa deve ser olhada individualmente, com as suas características e necessidades, logo, devemos evitar reduzir o sofrimento dos outros e o nosso também ao que é “ normal e trivial”. Cada pessoa sente e vivências as perdas e os acontecimentos da vida de forma única e singular
O Acompanhamento Psicológico possibilita ajuda na elaboração do luto normal e patológico.
O melhor momento é uma semana depois, porque nessa altura todo o processo que envolve a cerimónia fúnebre e aspectos burocráticos estão tratados e a pessoa pode finalmente, parar e pensar no seu sofrimento e, vivenciar sem receios e sem medos a sua dor!
Muitas vezes, pelo ritmo de vida e por medo de se tornar cansativo para a restante família, a pessoa em luto acaba por esconder /camuflar o seu sofrimento, podendo esta situação conduzir a um luto patológico ou aparecendo este sofrimento sobre a forma de somatizações.

Existe alguém que pode ajudá-lo!
Não deixe que a dor tome conta de si!

Hiperactivo ou Irrequieto?






A Irrequietude Motora designa uma actividade marcada, com uma quantidade excessiva de movimentos, sem ter uma implicação de patologia;
A Hiperactividade, aplica-se a diversos tipos de comportamento mal organizado, onde domina uma combinação de irrequietude e desatenção, inadequada para a idade, com grande intensidade e gravidade dos sintomas. Na Hiperactividade a criança dificilmente conseguirá ter ( mesmo que pequenos) momentos de atenção e concentração, não pára para brincar ou outras actividades, tem problemas graves no sono, e muita dificuldade em parar. A Criança Irrequieta embora com grande actividade consegue alguns momentos de tranquilidade, consegue descansar, consegue parar qundo as actividades lhe interessam.
Como defende João dos Santos, a irrequietude seria uma forma de reacção contra a ansiedade, e surge, muitas vezes de um fundo de depressão.
A criança, incapaz de pensar o sofrimento, utiliza o comportamento como forma de descarga. Age em vez de pensar.
O sintoma psicomotor inicial seria o sinal de uma tentativa de adaptação ao que exigem dela, um pedido de atenção ao seu sofrimento.
A instabilidade tem sempre a ver com uma espécie de fuga para a frente. Há qualquer coisa que leva a criança a não poder estar quieta, calada, silenciosa, a evitar pensar nos fantasmas mais ligados à realidade anterior.
A instabilidade seria, de algum modo, a procura da “estabilidade” de uma idade anterior, “ e, portanto, uma tentativa de “cura” da ansiedade a que conduz a insegurança”(João dos Santos, 2002)
De acordo com a escola Francesa, a problemática comum mais profunda situar-se-ia, numa carência no plano das interiorizações, e numa fragilidade no plano das identificações sexuais ( Salgueiro, 2002)
Malarrive e Bourgeois( 1976, cit. por Salgueiro, 2002), encontraram nas crianças hiperactivas distorções precoces na relação mãe-bebé.
A instabilidade remete para uma relação precoce frágil em que a criança não se pôde estruturar psiquicamente, construindo um “self” frágil com “objectos internos” frágeis. (Berger, 2001; Salgueiro, 2002).
São as marcas desse vivido precoce que perseguem a criança no seu interior, não lhe permitindo qualquer descanso (segurança).
A terapêutica essencial a instituir nas crianças irrequietas deverá consistir numa perspectiva sistémica, ou seja, em todas os sistemas em que a criança se encontra inserida (família, escola).
A intervenção deve incidir sobretudo na família e escola, que deverão garantir à criança estabilidade e segurança.
Com a família, importa sobretudo modular a relação pais-filhos, tornando-a menos inquieta, mais organizadora e afectivamente mais rica e contentora.
A escola deverá ajudar a criança a pensar melhor, criando situações de aprendizagem serenas e interessantes.
O tratamento/ acompanhamento destas crianças deve ser regular, contínuo e a longo prazo.

O tratamento farmacológico na Hiperactividade????

De acordo com Pedro Strecht assistimos, hoje em dia, a um aumento de crianças desnecessariamente medicadas.
Mais medicadas, não, necessariamente, melhor tratadas, porque ficará por perceber é que a hiperactividade e défice de atenção são meros sinais e sintomas.
Corre-se o risco de tratar sintomas ou doenças e esquecer crianças ou doentes.
Como refere Strecht , a principal tarefa perante uma criança hiperactiva é sempre compreender a origem, o porquê, os significados latentes, desses mesmos sintomas.
Medicar sem compreender é como pôr a chupeta a um bebé sem perceber porque chora.
Não é melhor ver porque chora? Se é fome ou cólicas intestinais?

Voltando à nossa questão: A prescrição da medicação deve ser bastante moderada, devido aos riscos que lhes estão associados ( Berger, 2001;Salgueiro, 2002).
Taylor ( 1986, cit. por Salgueiro, 2002) num estudo que realizou, com crianças hiperactivas observou que os psicofármacos podem ter efeitos secundários importantes em certas crianças, tais como:
Atraso no crescimento e perda de apetite (mais frequentes)
Crises convulsivas, taquicardia, hipertensão, agravamento de tiques, estados disfóricos (menos frequentes).
Desta forma, e como defende Berger (2001), a medicação pode ser prescrita de forma bem moderada, supervisionada regularmente, nas seguintes condições:
Quando a criança corre risco de exclusão escolar ou familiar em virtude do seu comportamento.
Quando existe um desafio cognitivo imediato, com risco de retenção para a criança, ou quando esta não consegue aprender devido à falta de atenção.
Porém, sempre, e em simultâneo, a criança deve seguir um tratamento psicoterapêutico.

“Por detrás do que se vê, existe qualquer coisa de mais profundo, menos fácil, um lado lunar, mas infinitamente mais bonito e poético do que a própria vida afinal.
Esquecê-lo é ignorar. Descobri-lo é dar.
Como quem entende os silêncios do que não é dito.
Como quem sabe o que se estrutura para além de uma fachada.
Fala através de ti, com o pedaço de criança que ainda tiveres vivo, e verás o que elas te dizem. Também aí as crianças só falam do que estivermos preparados para ouvir.
Talvez por isto se vejam cada vez mais crianças a quem é colocado o rótulo de hiperactividade com défice de atenção." (Strech, 2005)

"A Criança e a Importância do Brincar"




Para qualquer criança, brincar é tão essencial ao seu desenvolvimento como a alimentação e o carinho. Enquanto brinca, a criança organiza a sua forma de pensar e sentir, mostra como vê a realidade e aprende a interagir com os outros e vive as situações de uma forma espontânea e alegre.
Brincar é natural na criança, facilita o seu crescimento harmonioso, desenvolve a relação com o outro, é uma forma de comunicação, ajuda a aprender a resolver conflitos e a lidar com as situações.
Cada idade tem um modo de brincar específico e é em cada uma dessas fases que a criança aprende a diferenciar a realidade da fantasia.
Aprende também a separar o seu espaço do espaço do outro e a dar novos significados à realidade que a rodeia conforme o que assimila durante as brincadeiras.
A forma como a criança brinca revela a sua personalidade e a forma como está estruturada para se relacionar com o mundo, ou seja é claramente visível nos sentimentos que as brincadeiras despertam, como por exemplo os jogos (ganhar e perder).
O brincar tem um papel fundamental no controlo da agressividade e na descoberta de novas formas de estar. Enquanto constroem batalhas com soldados, descarregam a fúria de alguma frustração, e aprendem a controla-la.
Assim o brincar ajuda a descomprimir o dia a dia onde a criança tem que aprender a integrar-se nos diferentes grupos e situações. A sua vida é orientada por regras de comportamento, e é frequentemente sujeita a repreensões e chamadas de atenção.
Assim os saltos e tropelias e os excessos ajudam-na a libertar tensões acumuladas e levam á exaustão – e a uma boa noite de sono.
O papel dos pais é, então, estimular a brincadeira na criança, mostrar-lhe que o jogo, o movimento, o desenho ou até a leitura, podem ser tão divertidos como um game-boy, ou a televisão.
Durante as brincadeiras e jogos a criança desenvolve aspectos importantes para o seu crescimento, tais como: desenvolvimento físico (muscular), raciocínio lógico, percepção sensorial, socialização, comunicação e criatividade.
Quando se encontra uma criança que não brinca, não convive com as outras crianças quando estão juntos, então estamos perante uma criança inibida, que não se desenvolveu ao nível da socialização e do brincar, pode acontecer por diversos motivos:
Pais demasiados proibitivos e culpabilizantes, que não estimulam a brincadeira, e que travam o processo exploratório, pais que punem a agitação motora natural na criança, pais que convivem mal com as tropelias próprias das crianças, em suma pais pouco disponíveis para brincar com os filhos.
É papel dos pais estimular o acto de brincar. Estimular o potencial da criança para que desenvolva uma série de capacidades que lhe são inatas (brincar, correr, saltar). No entanto como em tudo, o excesso de estímulos pode confundir a criança.
Resumindo: brincar estimula os reflexos perceptivos, motores, intelectuais, e sociais da criança, ajuda-a a conhecer-se a si mesma e a explorar as suas emoções. Por outro lado auxilia a criança a tomar noção do “eu” e do “outro”, e desenvolve a linguagem.
Assim, dizemos aos pais, sempre que puder brinque com o seu filho. Desenvolve a confiança da criança em si mesmo, ou seja a sua auto-estima.

O brincar não é apenas uma necessidade biológica para descarregar energia embora sirva essa função também, é mais que isso, é um encontro com as emoções e com a criatividade, é ai que a criança descobre o seu verdadeiro “eu”, como diz Winnicot.
Quando se brinca evoca-se uma relação de domínio entre a realidade psíquica e o mundo real no qual se vive, conferindo harmonia ao pensamento e ás emoções. Por isso quando se brinca organiza-se o mundo interior e abre-se espaço para a aprendizagem.
Uma criança que não brinca não está disponível para a aprendizagem, não sabe ler as emoções, não consegue dar sentido à sua realidade interna. Esse silencio no brincar inibe o pensamento que é uma forma de não perceber os afectos, e a curiosidade que separado do desejo de aprender não consegue cultivar a ideia e partir á descoberta da leitura, da escrita das ciências, da matemática etc.
A criança que não consegue brincar, não consegue representar a sua realidade, está submerso em sofrimento e angústias. Quando uma criança não brinca com outras e as agride sem parar (a agressividade também é normativa) é motivo para pedir ajuda especializada.
Por tudo isto, a todos vós, pais, incentivai as vossas crianças a brincar.

M Jesus Candeias

Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta

jesuscandeias@gmail.com

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