A neurose obsessiva é uma doença bastante comum, afectando um em cada 40 ou 50 indivíduos.
Muitas dessas pessoas nunca foram diagnosticadas ou tratadas, embora os sintomas condicionem de forma grave a sua vida. Talvez a maioria desconheça o facto de esses sintomas constituírem uma doença que tem tratamento.
A neurose obsessiva é considerada uma doença mental grave por vários motivos: está entre as dez maiores causas de incapacidade de acordo com a Organização Mundial de Saúde; aparece frequentemente em indivíduos jovens no final da adolescência – e muitas vezes começa ainda na infância – sendo raro o seu início depois dos 40 anos; geralmente é crónica e, se não for tratada, na maioria das vezes os sintomas mantêm-se pela vida fora afectando toda a família.
Os sintomas raramente desaparecem espontaneamente: o mais vulgar é que apresentem flutuações ao longo da vida, aumentando e diminuindo de intensidade, mas estando sempre presentes. Por vezes tendem a um agravamento progressivo, podendo incapacitar as pessoas para o trabalho e implicar sérias limitações à convivência com a família e sociedade, além de terem um grande e permanente sofrimento.
Preocupar-se excessivamente com limpeza, lavar as mãos a todo o momento, verificar diversas vezes portas, janelas ou o gás antes de se deitar, não usar roupas vermelhas ou pretas, não passar em certos lugares com receio de que algo mau possa acontecer depois, não sair de casa em determinadas datas, ficar aflito caso os objectos sobre o móvel não estejam dispostos de uma determinada maneira... Esses são alguns exemplos de acções popularmente consideradas “manias” e que, na verdade, são sintomas de uma neurose obsessiva.
Tenho uma neurose obsessiva ou não?
Muitos pacientes com esta patologia só reconhecem que têm uma doença ao ler ou ouvir nos órgãos de comunicação algo sobre a doença, ou se forem confrontados por algum familiar. Diversos estudos demonstram que leva, em média, mais de oito anos desde o aparecimento dos sintomas da neurose até ela ser diagnosticado por algum profissional. Se você tem dúvidas sobre se tem ou não uma neurose obsessiva procure responder às perguntas a seguir:
1- Lava-se muito?
2- Verifica de forma repetida as coisas?
3- Tem pensamentos que incomodam, e dos quais gostaria de se livrar, mas não consegue?
4- Leva muito tempo para terminar as suas actividades diárias?
5- Preocupa-se muito com ordem, simetria ou alinhamento das coisas?
O que é uma neurose obsessiva?
A neurose obsessiva é uma doença do foro mental, identificada há cem anos por Sigmund Freud e que apresenta os seguintes sintomas:
- compulsões a efectuar rituais diversos,
- pensamentos ruminantes de que se não fizer determinado acto, poderá acontecer algo,
- dificuldade em expressar sentimentos,
- ter pensamentos em circulo,
- fazer o contrario daquilo que pensa,
- agressividade escondida entre outros sintomas.
O TOC é um transtorno mental incluído pela classificação da Associação Psiquiátrica Americana entre os transtornos de ansiedade.
Está classificado ao lado das fobias (medo de lugares fechados, elevadores, pequenos animais – como ratos ou insectos), da fobia social (medo de expor-se em público ou diante de outras pessoas), do transtorno de pânico (ataques súbitos de ansiedade e medo de frequentar os lugares onde ocorreram os ataques), etc.
Os sintomas do TOC envolvem alterações do comportamento (rituais ou compulsões, repetições, evitações), dos pensamentos (preocupações excessivas, dúvidas, pensamentos de conteúdo impróprio ou “ruim”, obsessões) e das emoções (medo, desconforto, aflição, culpa, depressão).
Sua característica principal é a presença de obsessões e/ou compulsões ou rituais. Além disso, os portadores do TOC sofrem de muitos medos (de contrair doenças, de cometer falhas, de ser responsáveis por acidentes). Em função desses medos, evitam as situações que possam provocá-los – comportamento chamado de evitamento.
Obsessões são pensamentos, idéias, imagens, palavras, frases, números ou impulsos que invadem a consciência de forma repetitiva e persistente. Sentidas como estranhas ou impróprias, geralmente são acompanhadas de medo, angústia, culpa ou desprazer.
O indivíduo obsessivo, mesmo desejando esforçando-se, não consegue afastá-las ou suprimi-las do seu pensamento. Apesar de serem consideradas absurdas ou ilógicas, as obsessões causam sofrimento e levam a pessoa a fazer algo (rituais ou compulsões) ou a evitar fazê-lo (evitamentos) para se livrar do medo ou do desconforto.
As obsessões mais comuns estão relacionadas aos seguintes aspectos: sujidade, contaminação, dúvidas, simetria, perfeição, exactidão ou alinhamento, impulsos ou pensamentos de ferir, insultar ou agredir outras pessoas, sexo ou obscenidades, armazenar, poupar, guardar coisas inúteis ou economizar, preocupações com doenças ou com o corpo, religião (pecado, culpa, escrúpulos, sacrilégios ou blasfémias) pensamento mágico (números especiais, cores, datas e horários).
O que são rituais e compulsões?
Compulsões ou rituais são comportamentos ou actos mentais voluntários e repetitivos executados em resposta a obsessões ou em virtude de regras que devem ser seguidas rigidamente.
Os exemplos mais comuns são lavar as mãos, fazer verificações, contar, repetir frases ou números, alinhar, guardar ou armazenar, repetir perguntas, etc.
As compulsões aliviam momentaneamente a ansiedade, levando o indivíduo a executá-las sempre que a sua mente é invadida por uma obsessão acompanhada de ansiedade. Nem sempre têm ligação real com o que desejam prevenir (p ex., alinhar os chinelos ao lado da cama antes de se deitar para que não aconteça algo de mau no dia seguinte; dar três batidas numa pedra da calçada ao sair de casa, para que a mãe não adoeça). Nesse caso, os rituais são chamados mágicos.
Os dois termos (compulsões e rituais) são utilizados praticamente como sinónimos, embora o termo “ritual” possa gerar alguma confusão na medida em que as religiões, de forma geral, adoptam comportamentos repetitivos e contagens nas suas práticas: ajoelhar-se três vezes, rezar seis ave-marias, ladainhas.
Existem rituais para baptizados, casamentos, funerais, etc. Além disso, certos costumes culturais, como a cerimónia do chá entre os japoneses, o cachimbo da paz entre os índios, ou um funeral com honras militares, envolvem ritos que estão relacionados com a obsessão. Nestes casos estes ritos ou rituais são organizadores do funcionamento mental se não forem excessivos.
Todos os seres humanos tem uma parte da sua personalidade mais obsessiva, mas, a diferença entre isso ser normal e patológico, está no facto de que, na patologia ser causador de sofrimento e praticado em excesso, ou seja, quando interfere na rotina diária do sujeito.
A neurose obsessiva quase sempre se inicia na infância, entre 9 e 11 anos e surge principalmente em indivíduos jovens até aos trinta/quarenta anos, podendo durar toda a vida, sendo sempre acompanhada de muita angústia, ansiedade, sentimentos de impotência, diminuição da auto-estima e depressão.
Quais são as causas da neurose obsessiva?
Embora esteja em “moda” dizer que todas as doenças psíquicas tem causas biológicas, o que se continua a verificar é que elas são ambientais e relacionais, ou seja adquirem-se na convivência familiar. Uma educação muito rígida e punitiva, está, vulgarmente presente nos casos que nos aparecem no consultório.
Tratamento da Neurose Obsessiva
Claro que os lobbies associados ás grandes farmacêuticas, transformaram a neurose obsessiva em TOC e atribuíram-lhe causas biológicas. Nunca vi ninguém com esta doença curar-se apenas com medicamentos, embora sejam necessários em muitas destas situações, mas, com psicoterapia psicanalítica e medicamentosa os sintomas melhoram bastante e a pessoa começa a ter outra qualidade de vida, diferente da anterior.
No entanto a terapia medicamentosa deve ocorrer em simultâneo com a psicoterapia, porque senão nada muda! Quando pára a medicação, os sintomas voltam porque dentro do sujeito e no seu pensamento nada mudou. A verdadeira mudança só é possível através da psicoterapia, ajudando-o a enfrentar os medos que estão na base dessas obsessões e/ou compulsoes.
No entanto a terapia medicamentosa deve ocorrer em simultâneo com a psicoterapia, porque senão nada muda! Quando pára a medicação, os sintomas voltam porque dentro do sujeito e no seu pensamento nada mudou. A verdadeira mudança só é possível através da psicoterapia, ajudando-o a enfrentar os medos que estão na base dessas obsessões e/ou compulsoes.
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