A tristeza é uma reacção normal e saudável a qualquer infortúnio.
A maioria, se não todos, os episódios mais intensos de tristeza da nossa vida são originados por condições de vida adversas, o divórcio, a perda de um ente querido, da pessoa amada, o desemprego, a incapacidade em lidar com determinadas situações ou em ultrapassar obstáculos entre outros problemas que nos surgem ao longo do dia-a-dia e da nossa vida.
E isto acontece tanto nas crianças, como nos jovens como inevitavelmente nos adultos.
Uma pessoa triste sabe quem (ou o que) perdeu e está triste porque gostava de voltar à situação anterior, o que nem sempre acontece ou é possível.
Ficar triste por perda da saúde, ou de um casamento, ou da perda de alguém querido, numa fase inicial, não é depressão, é tristeza, embora os sintomas possam ser idênticos.
Ainda assim, por vezes poder-se-á sentir triste durante algum tempo quando algum problema adverso surge na sua vida.
Porém, o que se espera é que após um acontecimento que nos deixa muito triste, passado algum tempo, máximo seis meses, sejamos capaz de ultrapassar essa tristeza e retomar o nosso bem-estar emocional, ultrapassando essa tristeza.
Se tal não acontece, e se mesmo antes deste tempo, surgem outros sintomas (pelo menos mais dois) associados, então estamos a deprimir.
Desta forma, podemos dizer que o que distingue a depressão da tristeza é a continuidade desta tristeza por demasiado tempo, e o surgimento de outros sintomas associados tais como:
• Alteração do apetite (falta ou excesso de apetite);
• Perturbações do sono (sonolência ou insónia);
• Fadiga, cansaço e perda de energia;
• Sentimentos de inutilidade, de falta de confiança e de auto-estima, sentimentos de culpa e sentimento de incapacidade;
• Falta ou alterações da concentração e da memória;
• Preocupação com o sentido da vida e com a morte;
• Desinteresse, apatia e tristeza;
• Alterações do desejo sexual;
• Irritabilidade;
• Manifestação de sintomas físicos, como dor muscular, dor abdominal, vómitos, enxaquecas, entre outros.
No entanto importa referir que se é verdade que muitas depressões, são o que nós chamamos “depressões reactivas”, ou seja são uma reacção a acontecimentos de vida, como atrás referi, também é verdade que existem outras depressões, e estas começam geralmente na infância e adolescência, em que o que está por detrás é a falta de amor, ou antes, faltou o sentimento e a segurança de ser amado. A pessoa tem uma tristeza profunda, mas não sabe a sua origem. A tristeza faz parte do indivíduo, da sua forma de ser. Sempre se conheceu assim.
Neste último tipo de depressão, o que a originou foi a falta o amor, ou antes, o sentimento de ser amado! Por isso, a depressão, é considerada uma doença dos afectos.
A depressão pode ser episódica (acontece apenas uma vez na vida do indivíduo), recorrente (quando de vez em quando a pessoa deprime e vai-se abaixo, tendo porém períodos em que está bem) ou crónica (quando a pessoa está sempre deprimida, conduzindo a uma diminuição substancial da capacidade do indivíduo em assegurar as suas responsabilidades do dia-a-dia.
Mas o que é afinal a depressão?
A depressão é uma doença mental que se caracteriza por tristeza mais marcada ou prolongada, perda de interesse por actividades habitualmente sentidas como agradáveis e perda de energia ou cansaço fácil.
A Depressão altera a maneira como a pessoa vê o mundo e sente a realidade, entende as coisas, manifesta emoções, sente a disposição e o prazer com a vida.
Afecta a forma como a pessoa se alimenta e dorme, como se sente em relação a si próprio e como pensa sobre as coisas.•
Ter sentimentos depressivos é comum, sobretudo após experiências ou situações que nos afectam de forma negativa. No entanto, se os sintomas se agravam e perduram por mais de duas semanas consecutivas, convém começar a pensar em procurar ajuda.
A depressão pode durar de alguns meses a alguns anos. Contudo, em cerca de 20 por cento dos casos torna-se uma doença crónica sem remissão. Estes casos devem-se, fundamentalmente, à falta de tratamento adequado.
O procurar ajuda atempadamente, de um psicólogo ou psicoterapeuta, poderá minimizar de imediato um sofrimento inimaginável para as pessoas sadias, e é sem dúvida a melhor forma de prevenir o agravamento dos sintomas.
No entanto, acho pela minha experiência clínica que o facto de se falar tanto na depressão, e sendo mesmo considerada a doença do Século , parece-me não existir, ainda, um esclarecimento correcto acerca dela.
Existem alguns mitos e falsas crenças sobre a depressão, muitas vezes vista como um sinal de fraqueza, de falta de pensamentos positivos ou uma condição que possa ser superada apenas pela força de vontade ou com esforço.
Assim, quando alguém diz que está deprimido, ou se refere a alguém deprimido dá um tom de pouca importância ao assunto, e reforça que a pessoa precisa de ter força de vontade como se isso bastasse para o curar.
Ninguém se cura, de uma depressão, só com força de vontade e com pensamentos positivos.
Isto faz com que muitos casos que me chegam já estejam ou acamados, sem já conseguir funcionar nem trabalhar. Outros com muita vergonha, como se fossem uns fracos por estar a pedir ajuda!
É importante salientar e interiorizar que a depressão é uma perturbação mental séria, que ocorre desde a 1ª infância à 3ª idade, e se não for tratada, pode conduzir ao suicídio, uma consequência frequente da depressão.
No caso das crianças e adolescentes, quanto mais cedo iniciar uma psicoterapia, mais probabilidades tem de na vida adulta vir a ter uma vida normal e sem sofrimento.
Neste caso o papel dos familiares é fundamental. Muitas vezes o doente deprimido, já não tem força nem vontade para nada. Não acredita em solução para a sua vida e para os seus problemas, já não tem força para procurar ajuda.
Quando a pessoa precisa de ajuda e resiste a ir a uma consulta, os familiares poderão marcar consulta em conjunto (pais/ filhos pequenos ou adolescentes, maridos/ esposas, etc), sendo a consulta para a família e, deixar ao psicoterapeuta a tarefa de “ convencer” a pessoa a iniciar um tratamento.
É pois, urgente aprender a reconhecer a depressão como uma doença e não como uma fraqueza, como uma “ personalidade fraca” como me dizem alguns pacientes, e pedir ajuda especializada quanto antes!
É possível prevenir a depressão?
Como em todas as doenças, a prevenção é sempre a melhor abordagem, designadamente para as pessoas em situação de risco, pois permite a intervenção precoce de profissionais de saúde e impede o agravamento dos sintomas.
Se sofre de ansiedade e/ou ataques de pânico, não hesite em procurar ajuda especializada, pois muitas vezes são os primeiros sintomas de uma depressão.
Se apresenta queixas físicas sem que os exames de diagnóstico encontrem uma explicação então aborde o assunto com o seu médico assistente.
Como se trata a depressão?
A Psicoterapia é fundamental no tratamento da depressão tendo muitas vezes, numa fase inicial de ser coadjuvada com a terapia farmacológica.
A Psicoterapia é fundamental para ajudar a pessoa a encontrar dentro de si recursos necessários para lidar com os acontecimentos geradores de tensão e ansiedade, assim como a diminuir o seu sofrimento, aumentar o seu bem – estar consigo próprio e com a vida!
A Psicoterapia é a forma cientificamente comprovada de obter resultados duradouros na perturbação depressiva.
Artigo publicado IN "Saúde Activa", por Maria de Jesus Candeias
Há muito tempo venho sofrendo do que eu acho ser depressão, e uma espécie de fobia social, mas nunca consegui nem ao menos começar um tratamento. Cheguei ao ponto de largar universidade, cursos linguísticos, até um momento em que quase não saía mais de casa. Não cuidava da minha higiene pessoal, mal comia, dormia pouco, se não fosse meu pai cuidando de mim, estaria morto já. Também deixei de falar com meus amigos, não atendia telefonemas. Já pensei diversas vezes em tirar minha própria vida, mas nunca tive coragem de realizar tal ato por medo, tanto da dor quanto do "outro lado". Com o tempo acabei melhorando um pouco e procurei um emprego. Conheci um rapaz com quem estava muito feliz. Mas ele precisou estudar longe, então fiquei só. Como trabalhava à madrugada e estudava de dia, acabei pedindo as contas do emprego, pois ninguém respeitava meus horários de sono. Nos falamos por telefone ainda, mas de repente ele sumiu e não deu mais notícias. Desde então sinto uma tristeza pior do que tudo que já senti antes e todos os dias eu choro. Já fazem quase 5 meses que não ouço mais sua voz e nada mais faz sentido. Tudo perdeu a graça, estou voltando à época que larguei as coisas, mas a tristeza é tanta que não sei quanto tempo vou aguentar. Sei que a força de vontade sozinha não adianta, pois mesmo com vontade não consigo ir a um consultório por conta de minha fobia social.
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